13 novembro 2006

Filhos

Cada um tem seu jeitinho, tão diferente do outro. A mãe ta pensando tanto em vocês. Vejo vocês crescendo e sei que vai chegar a hora que todo mundo fala e não cai a ficha pra mim.. Um dia vocês vão casar (acho), morar em outra casa, a mãe vai ficar morando sozinha, esperando vocês, a chata que liga todo dia, que liga toda hora, que quando ta longe vira despertador, que não sabe dormir sem dizer "boa noite filhos".

Uma vez vocês viajaram com o pai, faz muuuuuito tempo. E eu não conseguia falar com vocês, eram pequenos ainda e nunca tinham ficado longe de mim assim, eu chorava tanto que pensei que iam ter que me dopar, me colocar num hospital e me fazer dormir até dia de ver vocês chegando. Via criança pequena na rua e ia perto, abaixava e olhava pro rostinho das crianças e chorava pensando.. Cadê meus pequenos que nem falei com eles hoje.

Tentava ligar pra dar boa noite, pra escutar a voz de vocês e não conseguia. Nunca tive tanta saudade na vida. Nunca doeu tanto meu coração. Saudade eu sentiria de qualquer forma, mas a agonia de não escutar nem uma vez em um dia a voz de vocês me deixava doente (e é verdade, teve dia que não consegui ligar). Tavam numa praia com o pai, lembra?

Quando foram pra Tunísia lá fui eu bem abobada e feliz levar vocês no aeroporto.. Tonta, anta. Achei que não ia ficar triste. Voltando do aeroporto comecei a pensar.. Que vou fazer em casa? Se em 1987 Pipo nasceu e já tomou conta da minha vida, em 1991 Fla nasceu e meu coração ficou maior pra conseguir levar todo o amor que sinto por vocês.. E um dia vejo avião indo pra tão longe, lá se vão meus pequenos pro outro lado do mundo.

Não voltei pra casa. Fiquei pela rua andando. Quando voltei chorei um monte. E cada vez que passava pelo quarto de vocês chorava de saudade. Mas a mãe não quer que fiquem a vida toda do meu lado, sei que não tem como. E vou ficar assim ó de feliz se vejo que vocês estão bem, com marido/mulher, filhos, com suas vidinhas arrumadas.

Nossa, vou ficar muito bem. Mas vou continuar ligando :) todo dia pra escutar a voz dos dois. A Fla já me disse que acha uma chatice quando ligo muito, pensa que me importo sua bobinha? Nem!! E Pipo quando ligo "mãe mãe deixa desligar depois a gente fala". Acho graça. E amo amo amo amo vocês.

A mãe anda meio assim.. Quieta, to sabendo que faz falta o meu ânimo pra vocês, mas tanta coisa aconteceu e pode ser que não acreditem muito, mas tem dias que penso que preciso quase de ajuda sabia? Quando volto de ônibus e venho caminhando pela rua e sinto um medo tão gigante que dá vontade de correr, quando vejo alguém com olho que conheço e sinto vontade de chorar, nestas horas sei que estou exagerando e que se continuo assim, não posso mais nem sair de casa. E quase ta acontecendo isto.

Nem comecei a escrever por isto e acabei escrevendo um livro. Lembro do dia que pedi demissão da Maxi, Seu Paulo deu conselho, tira férias, procura um psicólogo, esquece assaltos, a vida é assim.. Mas não é, a mãe não consegue lembrar do rosto, dos olhos do cara que veio duas vezes com aquela arma prateada e apontou direto pro meu rosto "não foge não foge". Só de escrever já to com vontade de chorar. Quando ele mandou deitar no chão com rosto pra baixo e mão na cabeça, eu só pensava "vou escutar um barulho enorme e acabou, nunca mais vou ver meus filhos, nem doer vai".

Credo que lembrança que não me deixa. Vou parar. Comecei a escrever ''prometo que vou parar de pensar..." Mas nem vou. Não garanto. Vou parar de escrever sim, mas de ter medo acho que vai demorar.

Beijinho em cada um, mãe ama vocês.