14 outubro 2007

Gato

Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula.
Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se se lhe dá, então ele exige.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.

O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Lição de vida, enfim, sem veemências, sem exigências. O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo Mistério à disposição do homem.

Arthur da Távola